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Proibições arbitrárias?

Proibições arbitrárias?

Sobre Mandamentos de Deus existem malentendidos entre judeus e cristãos e ateus. A confusão maior se refere ao sexto mandamento: Não cometer adultério.

É proibido proibir! Li nalgum lugar que esse slogan não é novidade inventada por jovens rebeldes, mas velho princípio de educação entre índios brasileiros: Deixar as crianças fazer o que querem. Pedagogos também desaprovam imposições, para não criar complexos. Querem escolas que aprovem todos sem nenhuma exigência. Outros insistem na necessidade de fazer aprender a viver com as limitações inerentes à vida, aprender a receber a firmeza de um não. Alguns países fazem da competição por notas melhores o princípio básico do sucesso na escola, para prepará-los ao mundo real.

Além das limitações impostas pela natureza, o convívio em sociedade precisa de leis de convivência com suas obrigações e proibições formuladas por consenso ou por alguma autoridade que cuida também da observância dessas leis. Tigres asiáticos cresceram muito com disciplina rigorosa na educação, com a firmeza de proibições e exigências. A Igreja não pode impor suas leis, mas precisa propor o caminho exigente dos mandamentos de Deus.

Os sofrimentos de guerras mundiais levaram à Declaração universal dos direitos humanos pela ONU, Organização das Nações Unidas. Direitos implicam em obrigações e proibições. A igreja católica diz que existe uma lei natural na consciência das pessoas de boa vontade. As religiões têm leis apresentadas por pessoas que se apresentam como representantes de Deus.

Que Deus? – perguntam ateus. Se Deus não existe, tudo é permitido: Vale a lei do mais forte. Esse mais forte pode ser um governo, bom ou ruim, que faz cumprir suas leis, justas ou injustas. Ainda bem que a humanidade aprendeu a reconhecer leis inerentes à nossa natureza. Crentes e descrentes respeitam a declaração da ONU. Mesmo assim já surgem interpretações distorcidas que atribuem a uns o “direito” de passar por cima do direito de outros, até mesmo do direito de viver.

Não sei o que se passa na cabeça de um ateu, mas acho que existem ateus de boa vontade, talvez com saudade de Deus e do paraíso perdido. Quanto aos cristãos, nem todos vivem de acordo com os mandamentos de Deus. Alguns nem procuram conhecer a vontade do Senhor. Outros percebem o valor natural dos mandamentos e chegam a dizer assim: Se Deus não existisse, deveria ser inventado. Percebem a força da fé cristã para viver uma vida melhor.

Os cristãos reconhecem a existência de Deus que criou tudo mais que existe. Cremos que na Bíblia temos recados de Deus para nós, orientações para conviver com os outros e colaborar na construção de um mundo melhor.

A finalidade dos dez mandamentos é esta: Melhorar a vida humana na terra, a convivência entre pessoas e nações.

A Bíblia precisa ser lida com bom senso, para que a letra da lei não atrapalhe seu sentido. Os dez mandamentos não são imposições arbitrárias para cercear a nossa liberdade e diminuir a nossa alegria de viver. Jesus insiste na necessidade de andar pelo caminho da obediência aos mandamentos para entrar no reino dos céus, mas o objetivo dos mandamentos é melhorar o convívio de todos na terra.

Toda lei de Deus é orientada para o amor. Quem ama procura evitar tudo que possa prejudicar. Jesus deixa claro que as exigências dos mandamentos vão além da letra de lei. A mentalidade do mundo tem dificuldade especial de reconhecer o valor do sexto mandamento que proíbe o adultério e todo pecado contra a castidade. Muitos jovens não conseguem ou não querem ver que Deus não quer atrapalhar a alegria de momentos felizes, mas proteger a felicidade maior de um grande amor.

A matemática do amor é diferente da matemática financeira. Um amor vale mais que muitos amores. A família constituída pelo casamento entre um homem e uma mulher para a vida inteira, grande conquista do cristianismo, vem sofrendo abalos causados por problemas pessoais de comportamento e por influências negativas da mentalidade dominante que põe o prazer acima do amor e confunde amor com sexo. Certo dia, uma jovem desconhecida me abordou assim: Oi, bonitão, quer fazer amor? Respondi que amor não é coisa que se faz, é coisa que se vive.

Agora, com as facilidades do sexo “livre” nos motéis ou na casa do namorado, talvez exista menos prostituição remunerada. Jovens iniciados na promiscuidade terão dificuldade maior de viver como esposos fiéis e pais dedicados. Para quem acha tal discurso coisa de moral ultrapassada, lembro que vem surgindo, até mesmo entre jovens sem ligação religiosa, uma proposta de namoro sem queimar etapas, de castidade antes do casamento, com o lema: Quem ama sabe esperar. Você acha que um namoro assim será menos feliz? E o casamento depois também?

Se a mentalidade deste mundo não entende nem a razão e a finalidade do sexto mandamento, menos ainda entende a exigência do celibato para padres na igreja católica. Se a Igreja tem a coragem de exigir dos seus padres que deixem tudo, até mulher e filhos, para dedicar-se inteiramente ao Reino de Deus no serviço dos irmãos, não é por menosprezar o sexo.

No compromisso que o sacerdote católico assume na ordenação, a renúncia radical aos prazeres do sexo é apenas um pormenor. Não sou doutor em psicologia, mas tenho uma pergunta aos que acham que a felicidade depende da quantidade de prazer: Será que muitas pessoas não seriam mais felizes com menos sexo e mais amor?

Num mundo que faz da trinca do dinheiro, do poder e do prazer o seu Deus, o celibato pode ser um testemunho de outros valores. Tal testemunho se perde nos escândalos com padres que não conseguem ser fiéis até o fim às promessas que tiveram a coragem de assumir um dia. Tais escândalos não acontecem por causa do celibato, mas apesar dele. A porcentagem de padres que cometem pecados contra o celibato certamente é menor que a porcentagem de maridos que cometem traições.

A propaganda de camisinhas no carnaval e em outras festas manifesta o tamanho da promiscuidade reinante: Use camisinha, e aproveite a folia! Para que servem camisinhas, se não é para proteger adúlteros contra efeitos não desejados?

Por que será que uma sociedade tão tolerante diante da desordem moral, mesmo num país onde quase todos se dizem cristãos, fica tão escandalizada diante de qualquer pecado de padre? Querem justificar seus erros com os erros dos padres? Soube de uma conversa de homens, num encontro de Igreja. O primeiro disse assim: Aquele padre não me venha com lições de moral. Eu mesmo vi o padre no motel. Depois de pensar um pouco, o outro fez a pergunta pertinente: E você, o que estava fazendo no motel?

Os mandamentos valem para padres e leigos, solteiros e casados.

Se não fosse o pecado, nossa vida no mundo poderia ser um paraíso na terra. Alguns chegam a dizer que a Igreja despreza o corpo e diz que o prazer do sexo seria pecado. Ora, quem foi que inventou o ser humano com todas as dimensões corporais, tendências de sensualidade e afetividade, e capacidades espirituais? A Bíblia apresenta o homem e a mulher como obra prima de Deus: E Deus viu que tudo era muito bom.

Para muitos, a culpa da confusão neste campo seria de Deus que nos criou assim como somos. Não entendem que nossa semelhança com Deus consiste também na participação no seu poder criador, na liberdade de nos tornar aquilo que queremos ser, a partir das capacidades e limitações que nos foram dadas com a vida.

Temos a missão de tomar conta da terra, em solidariedade no bem e no mal, herdeiros das coisas boas e do peso dos pecados do passado, dos nossos e dos outros.

O pecado é fazer mal a alguém, e acaba fazendo mal ao pecador também. Não cabe atribuir a culpa a Deus. Certo dia, um bêbado procurou conversa comigo, com queixas da vida. Falei que ele tinha uma inimiga que atrapalhava sua vida. Quando ele insistiu em querer saber quem era essa inimiga, expliquei que era a cachaça. Ele se saiu com essa: O que é que eu posso fazer? Foi Deus que me fez assim.

Na realidade, Deus ofereceu a todos a inteligência capaz de ver nos outros os males causados pela bebida e por drogas piores, na vida pessoal e familiar, sem precisar experimentar para ver os estragos do vício.

Por que será que jovens, tão críticos diante de pais e educadores, são tão ingênuos para cair nas falsas promessas de traficantes que só querem seu dinheiro?

Quanto à proibição de matar, todos reconhecem a importância dessa lei, apoiada nas leis civis com sanções para castigar transgressores e tentar impedir que outros cometam tais crimes. Infelizmente, muitos países já não oferecem nenhuma proteção aos mais fracos, à vida que vem surgindo no ventre materno e deveria ser acolhida com amor pelos pais.

Jesus deixa claro que o quinto mandamento não apenas condena o pecado do assassinato, mas proíbe fazer mal a alguém. O ideal é passar pela vida fazendo o bem. O primeiro passo nessa direção é caprichar para não atrapalhar a vida de ninguém.

Mas o amor vai mais longe, se dedica a fazer o bem. Procure imaginar como seria nosso mundo, se todos tentassem cumprir na vida os mandamentos de Deus, sem necessidade de policiais e prisões, sem traficantes perversos a estragar o futuro de tantos jovens incautos que nada aprendem com a experiência dolorosa de outros.

Com a presença do Evangelho, a felicidade não está mais na quantidade de bens e prazeres que se pode conseguir. Mesmo numa perspectiva materialista, a felicidade não está em ter mais, mas em cobiçar menos. Contentar-se com o que temos, em vez de ter inveja de quem tem mais. Neste século, na iminência do esgotamento dos recursos naturais, todos precisam aprender a contentar-se com menos, a não buscar todas as comodidades que seu dinheiro permite comprar.

Está na hora de um novo discurso de pregadores: Convertei-vos e fazei a penitência de renunciar ao consumismo egoísta de um padrão de vida inviável em escala global, neste tempo de mudanças climáticas causadas pelo progresso material de bilhões de pessoas!

O Batista dizia: Contentai-vos com o vosso salário. Agora diria, aos ricos e a todos: Contentai-vos com um estilo de vida mais modesto, em vez de correr atrás de todas as comodidades acessíveis ao vosso dinheiro!

Na realidade, diante da mediocridade mediana do comportamento do conjunto dos cristãos, ainda existem críticos que se negam a reconhecer a grande importância da contribuição do cristianismo para o desenvolvimento da civilização mundial. Na Igreja, os santos deveriam ser maioria, em todos os tempos e lugares. Ainda tem vaga no céu para você.

Jequié, Fevereiro de 2011 (reformulado dia 3 de abril)

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