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Repensando Campanhas

Para ordenação de um padre

Desde a criação da Diocese de Jequié, a minha prioridade é a formação de padres para servir ao povo nas paróquias. Para quem diz que a Diocese deveria cuidar mais da promoção social para melhorar a situação dos pobres, tenho uma resposta: Realmente, a formação de um padre custa muito: Mais que 80 mil reais para os sete anos de filosofia e teologia. Sem contar os gastos com alguns que desistem no meio do caminho.

No entanto, conseguindo preparar um bom padre para uma paróquia, estou fazendo para os pobres muito mais que distribuindo dinheiro para eles.

Já fiz umas provocações sobre a Campanha da Fraternidade deste ano. Apresento agora uns pensamentos do ano passado que cabem muito bem na CF deste ano. Mais: As observações que faço para o povo todo, com mais rigor ainda valem para padres, neste dia que temos a alegria de ordenar mais um padre para a Diocese de Jequié.

CF 2010: Organizar a economia a serviço da vida de todos.

Conviver em fraternidade para o bem comum com paz e justiça no país e no mundo.

O Bem Comum requer que os interesses de todos tenham prioridade, sejam colocados acima dos interesses pessoais ou de grupos. A justiça foi definida assim: Dar a cada um a sua parte. Tal definição tem um sabor de paternalismo e assistencialismo: Prefiro dizer assim: Organizar a sociedade de tal maneira que cada pessoa possa conseguir a sua parte com seu próprio esforço.

Foi assim que Deus criou o mundo e nos confiou a missão de colaborar com ele. Podemos até dizer assim: Deus criou o mundo inacabado, para que possamos participar da sua obra. Com os dons que dele recebemos, podemos fazer-nos a nós mesmos e tornar-nos colaborares de Deus, responsáveis pelo presente e pelo futuro da nossa morada.

De certa maneira, o homem é seu próprio criador, inteiramente diferente dos bichos que não podem escolher o que querem ser.

Você é a pessoa que você mesmo construiu, dentro de limites externos e internos, a partir de um ponto de partida que lhe foi dado. No seu presente você se faz o que você será no futuro. Se fizer escolhas erradas, o problema é seu, e não adianta queixar-se de Deus e dos outros.

Precisamos aprender a combinar economia com ecologia, desenvolvimento para todos com preservação da natureza para gerações futuras.

No Evangelho temos pistas: Não acumular tesouros na terra… (Mt 6,19). Não podeis servir a Deus e ao dinheiro. Na realidade, vivemos num mundo cada vez mais governado pelo dinheiro. Quem tem, quer mais, quer tudo que o dinheiro possa comprar.

Todos já deveriam saber que não podemos mais desperdiçar o que a terra produz. Devemos deixar um mundo habitável para gerações futuras.

Quem deseja colaborar com um futuro melhor precisa contentar-se com um padrão de vida mais simples. O problema é que poucos querem renunciar às comodidades consumistas que têm ao seu alcance.

Muitos querem colocar o próprio Deus a seu serviço. Vivem pedindo favores a Deus, em vez de procurar fazer a vontade de Deus. Podemos, sim, fazer orações de pedido, mas não faz sentido ser interesseiro até na religião, ser egoísta até na oração. Pedir, sim, mas para quem mais precisa, e caprichar para fazer o que depende de nós.

Com o aumento da população mundial e a melhora do padrão de vida de alguns bilhões, a terra está chegando ao esgotamento dos seus recursos naturais. Com isso, a luta pela sobrevivência vai causar novas brigas e guerras, se as nações e as pessoas não conseguirem superar atitudes egoístas do tipo Farinha pouca, meu pirão primeiro.

Na tradição católica, a Quaresma é tempo de conversão, com oração, jejum e esmola, lembrando os 40 dias que Jesus passou no deserto antes de começar a sua pregação. Nosso tempo não quer saber de sacrifício, de renúncia, de jejum. Por outro lado, milhões praticam o jejum forçado da fome, outros o jejum do regime pela elegância. Uns estão doentes por falta de comida, outros porque comem demais.

Essas reflexões que fiz no ano passando, continuam valendo para a CF 2011: Fraternidade para a Vida na Terra: Ajude a salvar o Planeta!

Levando em conta que a terra está chegando ao esgotamento dos seus recursos, o único caminho para possibilitar à metade mais pobre da humanidade uma vida melhor é este: Que a metade mais rica aprenda a praticar um novo tipo de jejum: Contentar-se com um estilo de vida mais modesto. Todos que não têm seu horizonte limitado a pequenos problemas pessoais percebem a urgência de se fazer alguma coisa, mas poucos começam a fazer a sua parte.

O dilema fundamental de economia do nosso século é este: Como combinar o desenvolvimento dos povos com a preservação da natureza?

No meu tempo de padre jovem, muita discussão girava em torno de um bolo. Os mais revolucionários insistiam que o mais importante e urgente era distribuir o bolo. Os mais conservadores, os desenvolvimentistas, argumentavam que o bolo era pequeno demais, que ainda não dava para todos, que era necessário fazer o bolo crescer para ter o que distribuir.

Estamos chegando a uma situação inteiramente diferente. O bolo já não pode crescer muito, por falta de ingredientes, pelos limites dos recursos naturais: água, terra, energia, alimentos, minérios. Quem vive de olhos abertos para o mundo já percebe que os mais pobres só poderão ter mais, se os mais ricos se contentarem com menos. Já falei isso ainda no século passado, mas agora tal realidade vai ficar mais clara para quem tem olhos para ver.

O dilema básico de quem procura colaborar na construção de um mundo melhor para todos é este: O que será mais importante, a transformação das pessoas ou a mudança das estruturas da sociedade? É a sociedade que faz as pessoas, ou são as pessoas que fazem a sociedade?

A Campanha da Fraternidade não é para criticar os outros e reclamar do Governo, mas para incentivar a todos a fazer o que podem para construir um mundo mais fraterno. Só teremos um mundo melhor com homens e mulheres melhores.

Oração para começar uma nova etapa na vida: Viver é tão bom, Senhor! Obrigado por este ano novo (esta semana, este dia) que posso viver! Ensinai-me a andar nos vossos caminhos, a fazer a vossa vontade! Jequié, 25 de Março de 2011

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