"LUX MUNDI Sua Luz Pode Vencer as Trevas do Mundo"

Deixem o Campo produzir em paz

Diante de uma proposta que procura envolver a Igreja na luta contra empresas rurais, não aguentei ficar calado no meu cantinho. Na hora fiz um texto ligeiro para os colegas da CNBB, e em casa elaborei argumentos mais contundentes que enviei aos bispos. Vendo que certos setores já estão mobilizando a pressão popular por uma lei contra o tamanho das propriedades rurais, venho colocar os dois textos à disposição dos interessados. Hoje o primeiro. Na semana que vem o segundo, para quem deseja aprofundar-se na questão agrária.

Mais um “Plebiscito”???

Ouvi rumores sobre uma nova campanha de assinaturas falsamente chamada de plebiscito, profanando um nome importante na democracia.

Setores da esquerda anticapitalista querem ganhar o apoio da Igreja para conseguir uma lei que venha limitar o tamanho de propriedades rurais, mesmo que produzam alimentos para o povo, empregos para trabalhadores, e dinheiro para o país poder equilibrar as contas que de novo ficaram deficitárias por causa do valor irreal do Real.

Qual será o resultado de tal Campanha?

A) Na melhor das hipóteses, esse “Plebiscito” não vai dar resultado nenhum. Será apenas mais um tempo perdido com o trabalho de muitas pessoas de boa vontade com propaganda e coleta de assinaturas.

B) Na hipótese pior de se conseguir uma lei que limite o tamanho de fazendas, o resultado será o agravamento de conflitos no campo, especialmente se o PT perder as eleições deste ano.



Ainda não consegui descobrir dois pormenores importantes da proposta de tal “plebiscito”:


1) Qual será o limite do tamanho das propriedades?

2) Será para pagar indenizações aos proprietários ou confiscar as terras?

3) Se querem indenizar, quem é que vai pagar? Se for o Governo, de onde vai tirar os recursos? Dos pagadores de impostos, entre eles os pobres que pagam ICMS sobre tudo que compram?

4) Quem receberá as terras? Invasores? Companheiros de partido? Ou simplesmente os primeiros na fila do MST, etc?

5) Por que transferir dinheiro do povo para dar aos fazendeiros mais ricos, e para presentear com terra outros pobres que tiveram a esperteza de se meter na fila dos sem-terra?

6) Se querem confiscar as terras, é para cavar uma brecha no direito à propriedade?

7) Por que não limitar também as propriedades urbanas, o tamanho de prédios e fábricas, e o dinheiro dos ricos nos bancos?

8) Por que não limitar também os milhões dos milionários cada vez mais numerosos neste país que tem um governo que vem da esquerda?

9) Por que não limitar o tamanho dos juros sobre a dívida pública interna que transferem mais de cem bilhões por ano para os donos do capital?



Concluindo, em vez de criar uma lei pior, é muito melhor fazer cumprir a lei atual que exige que toda propriedade cumpra sua função social.


Por isso proponho:

a) Que textos oficiais da CNBB não contenham nenhum apoio à coleta de assinaturas para uma lei que venha impor limites arbitrários ao tamanho de propriedades rurais.

b) Que nenhum documento oficial da CNBB venha oferecer apoio aos invasores de propriedades alheias.

c) Que tenhamos todo cuidado para não dar apoio a qualquer entidade que ainda sonha com alternativas ao capitalismo pelo atalho da luta de classes.

d) Que não façamos nada que possa contribuir para criar no país uma situação parecida com aquela que surgiu no início de 1964.



No tempo de escolher o meu caminho procurei seguir o conselho de Paulo: Examinai tudo, guardai o que for bom. Além de ouvir pregações de pastores variados, visitei também uma célula do partido comunista em Paris. Lá ensinavam que a Igreja perdeu seu tempo com tantos séculos de pregação sobre o amor ao próximo, e que o comunismo tinha uma receita muito melhor para uma sociedade menos injusta: Mobilizar os pobres contra os ricos.


Naquele tempo, o caminho da revolução ainda podia parecer um atalho mais eficaz para criar um mundo novo. Ainda bem que eu já tinha espírito crítico.

Para impedir que a opção pelos pobres fosse trocada por uma opção contra os ricos, Puebla colocou um acréscimo: Opção preferencial pelos pobres. Não é combatendo os ricos que se melhora a vida dos pobres, pelo menos no Brasil.

Brasília, 09 de Maio de 2010 + Cristiano Krapf, Bispo de Jequié

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