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Igreja dividida?

Voltando de Roma e da Suiça, estou tentando colocar em dia coisas atrasadas, agora o Blog.

Na audiência particular com o Papa, e no encontro dos 25 bispos da Bahia e de Sergipe com ele, fiquei impressionado com a serenidade do nosso Papa Bento XVI diante das adversidades e críticas no mundo e na Igreja. Até a imprensa inglesa antes hostil reconheceu a importância da sua visita à Inglaterra. Ele é a pedra firme que a Igreja precisa nestes tempos de tempestades, quando muitos querem apoderar-se das chaves que Jesus lhe confiou.

Igreja desunida?

Em tempos de eleições, muitos católicos querem ensinar aos padres e aos bispos o Pai Nosso da política. Muitos candidatos e partidos dizem que a Igreja deve ter a coragem de sair de cima do muro e tomar posição. Outros querem que a Igreja fique fora do debate político-eleitoreiro. Ao dizer Igreja, se referem à instituição, representada por padres e bispos.

Existem diferenças entre a missão do clero e a missão dos leigos. Documentos oficiais da Igreja recomendam aos leigos a participação direta nos embates políticos e nas eleições,mas proíbem ao clero a participação direta na luta pelo poder político. Como é que um padre pode cumprir a sua missão de promover a unidade na sua comunidade, se ele mesmo se envolver nas brigas dos partidos e dos candidatos?

A coisa fica mais complicada quando partidos ou candidatos têm nas suas propostas coisas claramente contrárias aos princípios cristãos. Quando um partido pretende incluir nos direitos humanos o “direito” de tirar a vida de um filho que só conta com o amor da sua mãe e do seu pai para sua defesa, não podemos consentir calados. O mais importante dos direitos humanos é o direito à vida.

É claro que a missão principal da Igreja é a formação dos jovens e dos pais para o amor. Não conseguindo isso, precisa apelar para a responsabilidade do poder civil que tem o dever de defender os mais fracos com leis adequadas. Se todos fossem bons cristãos, o país não teria necessidade de leis contra ladrões e traficantes e assassinos, nem contra práticas abortivas.

No mundo real, mesmo com leis rigorosas cobradas por tribunais e sancionadas pelos castigos das prisões, acontecem muitos crimes. Como seria um país sem leis? Apenas com a lei do mais forte? Leis precisam proteger os direitos dos mais fracos.

Vejo que pessoas da Igreja que contribuiram para a chegada do PT ao poder, agora clamam por mudança, em parte por causa da proposta de descriminalização do aborto, em parte por outras razões. Mesmo assim, a participação de padres e bispos na política não deve tomar o rumo de propaganda em favor ou contra algum candidato ou partido.

Na política, a Igreja não deve ir além de um trabalho de conscientização, para levar o eleitor a examinar a vida, as capacidades e as propostas dos candidatos e dar o seu voto a quem possa trabalhar melhor para o bem comum do País ou do Estado, ou do município. Não podemos seguir o mau exemplo de grupos religiosos que fazem campanha para eleger candidatos da sua igreja para que esses possam defender os interesses particulares do seu grupo.

Igreja dividida na Paraíba?

Está circulando na Internet uma carta aberta que pede a substituição do arcebispo da Paraíba, Dom Aldo Pagotto. Poderão alegar que não conheço a situação para dar palpite, mas não aguento ficar calado diante de acusações injustas contra um irmão dedicado à missão que lhe foi confiada.

Depois de acusações genéricas e exageradas sobre seu “relacionamento sistematicamente desrespeitoso em relação aos pobres”, a carta se queixa de suas atitudes diante das CEBs, da CPT e de outros grupos pastorais, “agredidos por suas palavras e atos”. Quem não gritar e lutar contra os ricos, é acusado de ser contra os pobres, na chave marxista da luta de classes.

Metade das queixas se refere a uma coisa mais concreta: dois textos publicados por ele no Correio da Paraíba, com críticas ao Plebiscito pelo Limite da Propriedade da Terra. Chegam a dizer que Dom Aldo escreve demais no jornal. Certamente não diriam isso, se tais escritos obedecessem à cartilha de uma esquerda que pretende ter o monopólio de receitas para curar as injustiças do mundo capitalista.

Se não concordam com os argumentos apresentados pelo arcebispo, por que não apresentam argumentos melhores, se tiverem? Em vez disso, acusam o arcebispo de um “comportamento sistemático de semear o divisionismo em seu rebanho”. Tenho a impressão que os semeadores de discórdias aí são os acusadores do arcebispo. Lembro a última palavra da Presidência da CNBB sobre o “Plebiscito”: “Nas Igrejas Particulares, os Senhores Bispos darão as orientações que julgarem convenientes.”

Depois de uma década de tentativas de uma esquerda radical, a luta contra grandes propriedades rurais conseguiu entrar nos textos da CNBB pelo atalho do manual da Campanha de Fraternidade de 2010, elaborado por um pequeno grupo e apresentado depois como texto oficial da CNBB e do CONIC.

Em várias dioceses existem grupos que querem um bispo que seja obediente a eles, assim como na Igreja existem escribas e doutores da lei que querem tirar as chaves da mão do Papa. Quando um bispo toma posição radical contra a construção de usinas hidroelétricas ou projetos de irrigação, muitos acham que todos teriam o dever de entrar na mesma luta, para não quebrar a unidade da Igreja.

Querem que todos tenham a mesma opinião sobre problemas de economia? Querem enquadrar os católicos num partido católico? Melhor cuidar da unidade em questões de fé, de doutrina, de moral.

Sobre a questão de grandes propriedades rurais, meu Blog tem argumentos que ultrapassam a bitola estreita da Cartilha de uma esquerda doutrinária.

Jequié, 29 de setembro de 2010 + Cristiano Krapf www.domcristiano.com.br.

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