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Pecador precisa de Lei

(Vendo que não consegui fazer-me entender direito, aproveitei o dia de Nossa Senhora Aparecida para refazer o artigo com o mesmo título.)

Pecadores precisam de Leis

Na semana passada fiz um artigo sobre divergências na Igreja diante de uma campanha que pretende confiscar fazendas por uma lei que venha colocar um limite arbitrário ao tamanho das propriedades rurais. “Uma Igreja dividida?”

Agora surgem divergências maiores diante de pronunciamentos de padres e bispos, e também de leigos e pastores, sobre o PNDH 3 do PT que pretende deixar o aborto sem restrições na lei civil. A polêmica sobre a proposta de descriminalizar o aborto levou para o segundo turno a votação para presidente, e levou candidatos a declarar que são contra o aborto e a favor da proteção da vida pelo Estado.

No entanto, a proposta está no programa das Nações Unidas e continua no ar, apesar das advertências pesadas de bispos e pastores famosos por suas pregações. A Igreja precisa continuar com a pregação a favor da vida e a favor da sua proteção pela lei civil, mas com todo cuidado para não se meter nas brigas políticas de luta pelo poder.

Um país precisa de leis para proteger os direitos dos mais fracos. Entre os direitos humanos, o primeiro é o direito à vida. O mais fraco de todos os seres humanos é aquele que ainda não nasceu. Como é que alguém pretende ter o direito de eliminar uma vida inocente?

São Paulo diz que a lei não é feito para o justo, mas para o pecador. A missão fundamental da Igreja é formar o cristão consciente que sabe o que deve fazer ou deixar de fazer, sem precisar ser enquadrado na força de leis e de castigos. Um cristão bem formado e bem intencionado consegue ver em cada situação o que significa amar o próximo como a si mesmo, e procura agir de acordo com sua consciência. Progredindo no caminho da perfeição procura atingir a meta maior de amar como Jesus amou, e dedicar sua vida à construção de um mundo melhor. A mediocridade do consumismo egoísta não é coisa para cristão. O futuro precisa de jovens que procurem algo mais que pão e circo, dinheiro e prazer.

Na realidade, em quase 20 séculos de cristianismo, a humanidade ainda não conseguiu alcançar esse nível de fraternidade, nem mesmo no convívio familiar. Por isso a sociedade precisa de leis e deve tratar certos pecados como crimes contra os quais precisa proteger os mais fracos. Também é por isso que revolucionários apresentam o atalho da luta de classes como caminho melhor para um mundo de oportunidades iguais para todos. Mas os estragos das guerras ensinam que só teremos um mundo melhor com homens e mulheres melhores.

Um questionador radical pode fazer aos cristãos uma pergunta desconcertante: “Se o vosso Deus é todo-poderoso e bom, por que é que ele mesmo não intervém para segurar o braço do malfeitor, para impedir tantos crimes? A Bíblia nos diz que Deus confiou o domínio da terra à nossa boa vontade e nos deu a capacidade de organizar o convívio em sociedade.

Independente do resultado do segundo turno, a polêmica já teve resultados positivos:

1) Deu possibilidade ao eleitor de conhecer melhor as propostas dos dois candidatos que continuam no páreo.

2) Permitiu que todos possam ver que o povo brasileiro quer um governo que cuide da proteção do direito à vida de toda pessoa humana desde seu início.

3) Levou os candidatos a dizer que vão defender a vida dos mais fracos e não permitir a liberação geral de práticas abortivas.

4) Incentivou um aprofundamento da reflexão que possa ajudar a perceber que existe uma lei anterior a mandamentos religiosos e leis civis positivas, a lei inscrita no coração do ser humano, a lei natural acessível à consciência de cada pessoa.

5) Deixou claro que a Igreja não pode desistir da luta pela proteção da vida, qualquer que seja a posição dos governantes.

Na vida pessoal de um cristão de fé, a descriminalização do aborto não muda nada. Um cristão autêntico não foge do pecado apenas por medo de cair nas malhas e armadilhas de leis que punem práticas abortivas e outros crimes. Um cidadão honesto não deixa de roubar e matar apenas por medo de ser apanhado e condenado, mas por questão de consciência.

A missão da Igreja é formar pessoas que não precisem de leis para fugir do pecado e fazer o bem, mas façam tudo por amor.

Mas a realidade do mundo é outra. Mesmo com as leis que temos, acontecem tantos crimes que o país precisa construir cada vez maiores prisões. Como seria um país sem leis?

A liberação do divórcio, cancelando as leis que ajudavam a proteger a estabilidade da família, contribuiu para abalar ainda mais os alicerces da família já minados pelo egoísmo humano. A supressão de leis contra o aborto faz crescer as práticas abortivas. Já surgem os “profetas” do apocalipse que perguntam: “Até quando será que Deus vai ter paciência com esta humanidade pecadora?” Ainda bem que o povo brasileiro resiste à liberação total ou parcial do aborto. A polêmica atual deixa claro que todos devem cuidar da defesa da vida.

Num mundo pluralista fica difícil argumentar com mandamentos de Deus e falar de pecados. Ninguém quer ser chamado de pecador, nem mesmo aquele que diz que não existe pecado. Resta apelar à lei natural, à lei interior da consciência, recorrendo aos fundamentos da filosofia e teologia. Superar preconceitos “científicos” de materialistas que pretendem explicar a origem de tudo por um BIG BANG e reduzir o ser humano com sua inteligência e consciência a fenômenos elétricos e reações químicas. Apenas um corpo sem alma, um bio-computador.

Para que serve um filósofo que foge da questão da verdade, raiz de toda sã filosofia? Para que serve um teólogo, um moderno escriba e doutor da lei, que substitui a Palavra de Deus por teorias ao gosto do leitor? Troca teologia por ciência das religiões?

A Igreja combate a legalização do aborto, por entender que sua descriminalização faz aumentar a procura de práticas abortivas como solução para livrar-se de gravidez indesejada. No entanto, com ou sem o apoio da lei civil, a missão da Igreja é formar cristãos conscientes e coerentes que não precisem das amarras de leis e das ameaças de castigos para evitar o mal e construir sua vida sobre o fundamento maior do amor.

Jequié, 12 de outubro de 2010 + Cristiano

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